sexta-feira, 30 de março de 2012

BGC - tema 1.2

1.2 - O valor da Biodiversidade

La biodiversité est l'une des plus grandes richesses
 de la planète, et pourtant la moins reconnue comme telle
Edward O. Wilson, 1992

Conforme abordámos em tópico anterior dedicado a “Conceitos de Biodiversidade”, a Biodiversidade é propriedade fundamental da natureza, responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas.
Num contexto em que o bem-estar da humanidade é totalmente dependente do fluxo contínuo dos "serviços ambientais", que constituem predominantemente bens públicos sem mercado e preço, sendo, por isso, raramente detetados pelos indicadores económicos atuais, a sociedade atual enfrenta dois grandes desafios: a aprendizagem da “natureza do valor” e a descoberta do “valor da natureza”. O primeiro pretende ampliar o conceito de "capital", de modo a incluir os capitais humano, social e natural; o segundo refere-se ao reconhecimento do valor da natureza, que, mesmo sendo fonte de vida todos os dias, é ignorado pela maioria, pelos mercados, pelos preços, pela avaliação” como defende Stavros Dimas, Delegado da Comissão Europeia do Ambiente, 2008 [1].

Diversidade biológica representa saúde da Terra e constitui base da vida/prosperidade da humanidade.
Falar do “Valor da Biodiversidade”, falar de “valor” é uma questão mais profunda do que à primeira vista parece. Relacionados com “valor” temos, segundo Vaz e Delfino, 2010, que perceber como se encadeiam os seus elementos constituintes surgindo, assim os conceitos de “valor extrínseco” e “valor intrínseco”: o extrínseco é o valor derivado, por exemplo, o valor instrumental das coisas por causa da sua utilização atual ou potencial e o valor artístico que deriva da apreciação por terceiros, podendo ser instrumental, por causa da sua utilização atual ou potencial, ou inerente, como as obras de arte ou outros objetos de apreciação, como os objetos naturais, e o “valor intrínseco”, de difícil explicação, é o valor que uma determinada coisa tem devido á sua própria natureza, e as coisas são “intrinsecamente” valiosas, sem outras razões, porque meramente existem motivações para as promover, apreciar ou proteger devido à sua própria natureza. O valor instrumental tem, assim, a ver com a nossa vontade, interesses e desejos e o intrínseco tem a ver com aquilo que a coisa representa e não pelo modo de uso.
Por outro lado falar de “valor” não pode ser dissociado das suas diversas teorias, desde o antropocentrismo, sencientismo, biocentrismo, ecocentrismo e holismo. Não sendo esse o objetivo desta abordagem (as teorias) não podemos, todavia, deixar de pensar em função dessas encontrando em cada uma delas fortes argumentos uteis na presente “avaliação”.

Assim sendo falar sobre “Valor da Biodiversidade” pode ser visto em várias das perspetivas acima enunciadas: é inegável a utilidade (valor instrumental) que a Biodiversidade tem, pela valorização material que lhe damos, assim como é inegável o valor intrínseco porque há razões para a valorizar em si mesma e não apenas como meio.
Face ao exposto o valor da biodiversidade baseia-se nos seguintes[2], extrínsecos e/ou intrínsecos:
- valor intrínseco – todas as espécies são importantes intrinsecamente, por questão ética e moral.
- valor funcional – cada espécie tem papel funcional no ecossistema: predadores regulam população de presas, plantas fotossintetizantes participam do balanço de gás carbônico na atmosfera, etc.
- valor de uso direto – muitas espécies são utilizadas diretamente pela sociedade humana, como alimentos ou como matérias primas para produção de bens.
- valor de uso indireto – outras espécies são indiretamente utilizadas pela sociedade. P. ex., criar abelhas em laranjais favorece a polinização das flores de laranja, resultando na melhor produção de frutos.
- valor potencial – muitas espécies podem futuramente ter um uso direto, como por exemplo espécies de plantas que possuem princípios ativos a partir dos quais podem ser desenvolvidos medicamentos.
È um dado adquirido que a espécie humana depende da Biodiversidade para a sua sobrevivência. Mas, afastando-nos desta postura antropogénica, mais inegável é que todo um Planeta depende da sua Biodiversidade e esse é, por certo, o seu maior valor.

Fonte de imenso potencial de uso econômico, a biodiversidade é, além das cruciais questões do ar e alimentação, a base das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais e, também, a base para a estratégica da indústria da biotecnologia, para as energias, conhecidas ou a explorar, entre muitas outras funções, incluindo até as da lazer. São muitos os valores que a diversidade biológica possui, além dos acima referidos e “tipificados” e que poderiam ramificar para valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo, estético, entre muitos.

Um dos aspetos, embora em termos do antropogenismo, muito importante, a ter em conta, tem a ver com o valor económico: muitos cientistas, de mais diversas áreas, insistem nesse aspeto da proteção da diversidade biológica. Deste modo, Edward O. Wilson escreveu em 1992 que a Biodiversidade é uma das maiores riquezas do planeta, e, entretanto, é a menos reconhecida como tal. A maioria das pessoas vê a biodiversidade como um reservatório de recursos que devem ser utilizados para a produção de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos. Este conceito de gestão de recursos biológicos provavelmente explica a maior parte do medo de se perderem estes recursos devido à redução da Biodiversidade. Entretanto, isso é também a origem de novos conflitos envolvendo a negociação da divisão e apropriação dos recursos naturais.

Para os defensores acima referidos, uma estimativa do valor da Biodiversidade é uma pré-condição necessária para qualquer discussão sobre a distribuição da riqueza da Biodiversidade. Num trabalho publicado na Nature em 1997, Constanza e colaboradores estimaram o valor dos serviços ecológicos prestados pela natureza. A ideia geral do trabalho era contabilizar quanto custaria por ano para uma pessoa ou mais, por exemplo, polinizar as plantas ou quanto custaria construir uma qualquer estrutura natural vital, por exemplo, para um rio. O trabalho envolveu vários "serviços" ecológicos e chegou a valores de duas vezes o produto interno bruto mundial! Este é o valor económico que a Biodiversidade nos presta, dia após dia, ano após ano…

Pese embora a importância desta abordagem e do estudo acima indicado, é muito redutor avaliar a biodiversidade apenas nesta perspetiva. Assim sendo é necessário ter em conta outros valores, designadamente, os éticos, porquanto há que mudar a forma de o homem se relacionar com outros seres e, sem ter uma análise antropocêntrica, o homem, enquanto espécie pensante e dominante, tem o dever moral de proteger as outras formas de vida seja pela preservação das espécies, seja pelo respeito aos ecossistemas, os relacionados com a estética e a espiritualidade, por ser inegável a ligação entre o bem-estar humano e a sua natureza interior, os de ciência e educação, porquanto a biodiversidade é importante para conhecer salvaguardar, e, acima de tudo, os aspetos da vida.

É porque o homem cada vez mais reconhece o “Valor da Biodiversidade”, ou, para ser mais preciso e coerente, os seus Valores, que está na ordem do dia o Status jurídico da Biodiversidade, reconhecendo-se, assim, que esta deve ser avaliada e a sua evolução, analisada (através de observações, inventários, conservação...), as quais devem ser levadas em consideração nas decisões políticas. Está, por isso, a começar a receber uma direção jurídica [2]:
- “A relação "Leis e ecossistema" é muito antiga e tem consequências na Biodiversidade. Está relacionada com os direitos de propriedade pública e privada. Pode definir a proteção de ecossistemas ameaçados, mas também alguns direitos e deveres (por exemplo, direitos de pesca, direitos de caça). 
- "Leis e espécies" é um tópico mais recente. Define espécies que devem ser protegidas por causa da ameaça de extinção. Algumas pessoas questionam a aplicação dessas leis. 
- "Lei e genes" tem apenas um século. Enquanto a abordagem genética não é nova (domesticação, métodos tradicionais de seleção de plantas), o progresso realizado no campo da genética nos últimos 20 anos leva à obrigação de leis mais rígidas. Com as novas tecnologias da genética e da engenharia genética, as pessoas estão a refletir sobre o patenteamento de genes, processos de patenteamento, e um conceito totalmente novo sobre o recurso genético. Um debate muito caloroso, hoje em dia, procura definir se o recurso é o gene, o organismo, o DNA ou os processos. 
A convenção de 1972 da UNESCO estabeleceu que os recursos biológicos, tais como plantas, eram uma herança comum da humanidade. Essas regras provavelmente inspiraram a criação de grandes bancos públicos de recursos genéticos, localizados fora dos países-recursos.
Novos acordos globais (Convenção sobre Diversidade Biológica), dão agora direito nacional soberano sobre os recursos biológicos (não propriedade). A ideia de conservação estática da Biodiversidade está a desaparecer e a ser substituída pela ideia de uma conservação dinâmica, através da noção de recurso e inovação.
Os novos acordos estabelecem que os países devem conservar Biodiversidade, desenvolver recursos para sustentabilidade e partilhar benefícios resultante do uso. Sob essas novas regras, é esperado que o Bioprospecto ou coleção de produtos naturais seja permitido pelo país rico em Biodiversidade, em troca da divisão dos benefícios.
Princípios soberanos podem depender do que é melhor conhecido como Access and Benefit Sharing Agreements (ABAs). O espírito da Convenção sobre Biodiversidade implica consenso informado prévio entre o país fonte e o coletor, a fim de estabelecer qual recurso será usado e para quê, e para decidir acordo amigável sobre divisão de benefícios. O Bioprospecto pode se tornar um tipo de Biopirataria quando esses princípios não são respeitados.”[2].

Em função do cada vez mais reconhecido “Valor da Biodiversidade”, cabe aqui lugar a avaliar quais são as maiores ameaças: a poluição, o uso excessivo dos recursos naturais, a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais, a expansão urbana e industrial, tudo isso está levando muitas espécies vegetais e animais à extinção. A cada ano, aproximadamente 17 milhões de hectares de floresta tropical são desmatados. Estimativas sugerem que, a continuar, entre 5% e 10% das espécies que habitam florestas tropicais poderão estar extintas dentro dos próximos 30 anos[2].
A sociedade moderna - particularmente os países ricos - desperdiça grande quantidade de recursos naturais. A elevada produção e uso de papel, por exemplo, é uma ameaça constante às florestas. A exploração excessiva de algumas espécies também pode causar a sua completa extinção. A introdução de espécies animais e vegetais em diferentes ecossistemas também pode ser prejudicial, pois acaba colocando em risco a biodiversidade de toda uma área, região ou país[2].

Daí ser também pertinente, quando se fala de “Valor da Biodiversidade”, saber com clareza quais e o que são os seus pontos críticos: "um ponto crítico (hot spot) de Biodiversidade é um local com muitas espécies endêmicas. Ocorrem geralmente em áreas de impacto humano crescente. A maioria deles está localizada nos trópicos. Como pontos importantes destacámos o Brasil, que tem 1/5 da Biodiversidade mundial, com 50 000 espécies de plantas, 5 000 de vertebrados, 10-15 milhões de insetos, milhões de micro-organismos, e a a Índia, que apresenta 8% das espécies descritas, com 47 000 espécies de plantas e 81 000 de animais.

É porque o “Valor da Biodiversidade” estar na ordem do dia e fazer parte das preocupações dos mais dirigentes, que, assim, reconhecem que de facto, existe “Valor” que “2010 foi declarado pela ONU o Ano Internacional da Biodiversidade, como celebração da vida na Terra e do valor da biodiversidade para a vida humana”[1]. Assim e em jeito de conclusão fica o retrato desse evento marcante e palavras que o marcaram e que são bem exemplificativas da importância crescente do assunto: o Ano Internacional da Biodiversidade foi lançado oficialmente pela Presidência da nona reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), no Museu de História Natural de Berlim. Na presença de mais de 400 participantes a chanceler alemã, Dra. Angela Merkel, exortou o mundo a tomar as medidas necessárias para proteger a diversidade biológica da Terra. O lançamento oficial decorreu a 11 de Janeiro, dia em que a Agência Europeia do Ambiente lançou a primeira de 10 mensagens comemorativas, designada por Alterações Climáticas e Biodiversidade:

A variedade da vida sustenta o nosso bem-estar social e económico e será cada vez mais um recurso indispensável na luta contra as alterações climáticas. No entanto, os nossos padrões de consumo e de produção estão a privar os ecossistemas da sua capacidade de resistir às mudanças do clima e prestar as suas funções, de que tanto precisamos. À medida que se entende mais sobre as repercussões das alterações climáticas sobre a biodiversidade, torna-se claro que não podemos resolver as duas crises separadamente. A sua interdependência obriga-nos a enfrentá-los em conjunto.” [1]

Com tamanha importância, com tanto valor, é preciso evitar a perda da biodiversidade.

[1] - http://www.camarasverdes.pt/tema-especial/415-biodiversidade-vital-para-o-bem-estar-da-humanidade.html, consultada em 28 de Março de 2012
[2] -  http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622, consultada em 28 de Março de 2012

Bibliografia:
- Araújo, M. (1998) Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana 6(1). Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/course/view.php?id=66651. pp. 19-40.
- Azeiteiro, U., 2009. Biodiversidade e Serviços do Ecossistema. Estudo e Conservação da Biodiversidade. Txt de Apoio – UT1. DCeT. UAb. 
- Lovejoy, T.E. (1996) "Biodiversity: what is it?" In Biodiversity II. Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/course/view.php?id=66651. pp. 7-14
- Vaz, S. & Delfino, A. (2010). Livro de Ética e Cidadania Ambiental. UAb
- Wilson, E.O., 1988. The current state of biological diversity. Pp. 3-18 in Biodiversity, E.O., Wilson and F.M., Peter, eds. Washington, D.C.: National Academy Press.

quinta-feira, 29 de março de 2012

BGC - Tema 1.1

1.1 - Os conceitos de Biodiversidade

Biodiversidade… Ora aqui está mais um termo que começamos a ouvir todos os dias…Como tantos outros termos, temos uma intenção, uma perceção, de que sabemos do que estamos a falar… Mas, em boa verdade, estamos a falar de quê? Para alguns autores (Williams, 1993) estamos em presença de um conceito “pseudocognitivo” e todos, de forma intuitiva, parecemos partilhar e parecer entender do que “estamos a falar”. Todavia o termo é muito mais amplo do que à partida parece e a abordagem diária, simples e simplista, que fazemos, merece um maior aprofundamento e entendimento que vai muito além do uso vulgar que lhe damos.


Em termos de origem, “Biodiversidade” ou “diversidade biológica” (grego bios, vida) é a diversidade da natureza viva. Desde 1986, (E. O. Wilson, 1986) o termo “Biodiversidade”, e conceitos associados, são vulgares entre a comunidade científica, como biólogos, ou em agentes da sociedade como ambientalistas, líderes políticos e, acima de tudo, entre os cidadãos conscientizados no mundo todo. Este uso, esta “vulgarização” do termo, com virtudes e defeitos associados, coincidiu com consciencialização da humanidade, com base nos estudos e provas de cientistas e peritos, da extinção, observado nas últimas décadas do Século XX.

O termo “diversidade biológica” foi “criado” por Thomas Lovejoy em 1980, ao passo que a palavra “Biodiversidade” foi usada pela primeira vez pelo entomologista E. O. Wilson em 1986, num relatório apresentado ao primeiro Fórum Americano sobre a diversidade biológica, organizado pelo Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (National Research Council, NRC). Reza a “história” que  a palavra "Biodiversidade" foi sugerida a Wilson pelo pessoal do NRC a fim de substituir a expressão que se começava a vulgarizar de “diversidade biológica” (Lovejoy, 1980), expressão considerada menos eficaz para comunicação.
(Fonte: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622).

Foto 2 - acima - Edward O. Wilson

Foto 3, esquerda - Thomas Lovejoy 

De acordo com Araújo, 1998, “apesar da utilização generalizada do conceito de biodiversidade (p.e., OTA 1987; Reid & Miller, 1989; MacNeely et al. 1990; Wilson, 1992; Johnson, 1993) ainda não foi possível operacionalizar nenhuma das múltiplas definições, com vista a possíveis aplicações em planeamento, ordenamento do território e conservação (p.e., Noss, 1990; DeLong, 1996; Gaston, 1996a).” São muitas as propostas e as tentativas de redução do conceito mas ”afigura-se pouco provável que algum dia alguma medida venha a merecer o consenso (Norton, 1994). De facto, o espectro de abrangência do conceito é tão vasto que corre facilmente o risco de, analisado em todas as suas vertentes, se tornar equivalente a Biologia (Gaston, 1996a). Para alguns autores (Williams, 1993) estamos em presença de um conceito “pseudocognitivo” na medida em que todos assumem partilhar a mesma definição intuitiva.”

Não há, assim, conforme exposto e indicado (Araújo, 1998), uma definição consensual de Biodiversidade, muito menos uma “definição”, além da cognitiva, comumente aceite. Uma das possíveis definições é: "medida da diversidade relativa entre organismos presentes em diferentes ecossistemas". Esta definição inclui diversidade dentro da espécie, entre espécies e diversidade comparativa entre ecossistemas.
Podemos intuir que se refere à variedade de vida no planeta Terra, incluindo:
- A variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos; 
- A variedade genética dentro das populações e espécies; 
- A variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; - e a variedade de comunidades, hábitats e ecossistemas formados pelos organismos;
Independentemente das “variações” em torno do termo, como certo aceita-se que a Biodiversidade se refere tanto ao:
- Número (riqueza) de diferentes categorias biológicas;
- Quanto à abundância relativa (equitabilidade) dessas categorias. 
Dentro destas devemos, ainda, considerar:
- Variabilidade ao nível local (alfa diversidade); 
- Complementaridade biológica entre hábitats (beta diversidade); 
- Variabilidade entre paisagens (gama diversidade). 

Ela inclui, assim, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos genéticos, e seus componentes, sendo intuitivo que o termo biodiversidade - ou diversidade biológica – descreve, assim, a riqueza e a variedade do mundo natural. As plantas, os animais e os microrganismos fornecem alimentos, remédios e boa parte da matéria-prima industrial consumida pelo ser humano.

Para entender o que é a biodiversidade, devemos considerar o termo em dois níveis diferentes: 
- Todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo, 
- E as inter-relações, ou ecossistemas, na qual a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras.
A diversidade biológica está, por isso, presente em todo lugar: no ar, nos solos, no meio dos desertos, nas grutas, nos oceanos, nos charcos, nas tundras congeladas ou nas fontes de água sulfurosas. A diversidade genética possibilitou a adaptação da vida nos mais diversos pontos do planeta. 

Cabe aqui, ainda, lugar para uma outra definição, muito mais desafiante:
- Biodiversidade é a "totalidade dos genes, espécies e ecossistemas de uma região" (Fonte: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622). Esta definição unifica os três níveis tradicionais de diversidade entre seres vivos:
- Diversidade genética - diversidade dos genes em uma espécie.
- Diversidade de espécies - diversidade entre espécies.
- Diversidade de ecossistemas - diversidade em um nível mais alto de organização, incluindo todos os níveis de variação desde o genético.
O universo associado ao termo é de uma vastidão ainda incalculável: por exemplo, não se sabe quantas espécies vegetais e animais existem no mundo. As estimativas, e os únicos dados globais que temos são, apenas, assentes nestas, variam entre 10 e 50 milhões, mas, em boa verdade, e realidade, até agora os cientistas classificaram e deram nome a somente 1,5 milhão de espécies. Entre os especialistas, o Brasil é considerado o país da "megadiversidade": aproximadamente 20% das espécies conhecidas no mundo estão aqui. 

Independentemente de toda a discussão em torno do termo, são já claros muitos conceitos que lhe estão associados e, acima de tudo, é já claro o conceito de “responsabilidade” que deu origem a, por exemplo, passos importantes como o são a Convenção da Diversidade Biológica: este é o primeiro instrumento legal para assegurar a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Mais de 160 países assinaram o acordo, que entrou em vigor em dezembro de 1993. O pontapé inicial para a criação da Convenção ocorreu em junho de 1992, quando o Brasil organizou e sediou uma Conferência das Nações Unidas, a Rio-92 (Foto 5 - à direita, Rio-92), para conciliar os esforços mundiais de proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico.
Contudo, ainda não está claro como a Convenção sobre a Diversidade deverá ser implementada. A destruição de florestas, por exemplo, cresce em níveis alarmantes. Os países que assinaram o acordo não mostram disposição política para adotar o programa de trabalho estabelecido pela Convenção, cuja meta é assegurar o uso adequado e proteção dos recursos naturais existentes nas florestas, na zona costeira e nos rios e lagos.

Independentemente de todas as discussões em torno da subjetividade do termo, um conceito é, todavia, já dado como certo e seguro por todos os “beligerantes”:

O papel da Biodiversidade é "ser um espelho das nossas relações com as outras espécies de seres vivos", uma visão ética dos direitos, deveres, e educação


Fonte: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622, consultada em 28 de Março de 2012

Bibliografia:
- Araújo, M. (1998) Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana 6(1). Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/course/view.php?id=66651. pp. 19-40.
- Azeiteiro, U., 2009. Biodiversidade e Serviços do Ecossistema. Estudo e Conservação da Biodiversidade. Txt de Apoio – UT1. DCeT. UAb. 
- Lovejoy, T.E. (1996) "Biodiversity: what is it?" In Biodiversity II. Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/course/view.php?id=66651. pp. 7-14
- Vaz, S. & Delfino, A. (2010). Livro de Ética e Cidadania Ambiental. UAb

Filme

"MONDEGO"
Versão Portuguesa
by Daniel Pinheiro

"Projeto final de mestrado em Wildlife Documentary Production da Universidade de Salford, Reino Unido.
Documentário classificado com uma distinção.
Filmado em Portugal durante Maio/Junho de 2011.
Uma viagem pelo rio Mondego e a sua vida selvagem, das montanhas até ao oceano Atlântico."
(Fonte: http://vimeo.com/33465162)

Pode ver (vale a pena!) em "Ecrã Inteiro" em:  http://www.youtube.com/watch?v=ZP9_mYKRY2I

quarta-feira, 28 de março de 2012

Mondego

Biodiversidade no Rio Mondego
Breve abordagem


A análise de qualquer local desta natureza caminha de mãos dadas com a qualidade da água.
No respeitante ao Mondego e à qualidade da água para a vida aquática há a distinguir 2 zonas principais:
i) O troço superior do rio, com bons níveis de qualidade da água, proporcionando a manutenção das comunidades biológicas aquáticas com características próximas de uma situação prístina;
e
ii) A região do Baixo Mondego com acentuada degradação da qualidade da água.

Algumas das espécies identificadas para esta bacia têm particular importância do ponto de vista conservacionista e comercial, nomeadamente o sável (Alosa alosa), a savelha (Alosa fallax), a lampreia (Petromyzon marinus), e a truta (Salmo truta fario). A construção do sistema de açudes e barragens ao longo do rio, veio constituir uma barreira à passagem das espécies migradoras. A jusante do açude de Coimbra encontram-se exclusivamente as espécies que sobrevivem a uma potencial influência salina.

No que respeita ao estado de conservação da vegetação ripícola, verifica-se que em apenas cerca de um terço da extensão total do rio se pode considerar muito bem conservada, ou seja, em que ambas as margens apresentam uma cobertura vegetal bem desenvolvida estando presentes os estratos arbóreo e o arbustivo.

Entre os principais fatores de perturbação, degradação e destruição dos ecossistemas aquáticos e terrestres associados contam-se: o desenvolvimento urbano e industrial, o desenvolvimento agrícola, a construção de barragens, a extração ilegal de areias, as atividades lúdico-recreativas, a atividade florestal, os fogos florestais, a invasão de espécies exóticas, a caça e a pesca.

No troço do Baixo Mondego surgem as matas de choupos, ulmeiros e salgueiros, de que a mais emblemática é, sem dúvida, a Mata Nacional do Choupal na periferia de Coimbra. Aqui nidifica a maior colónia urbana de milhafre-preto (Milvus migrans) da Europa, com cerca de 70 ninhos recenseados.
Já no estuário é comum observarem-se espécies como o pato-real (Anas platyrhynchos), a cegonha-branca (Ciconia ciconia), o flamingo-comum (Phoenicopterus roseus), a gaivota-prateada (Larus argentatus), o alfaiate (Recurvirostra avosetta), o pernilongo (Himantopus himantopus) e a andorinha-do-mar-anã (Sterna albifrons), entre muitas outras.

Devido à sua importância ecológica como zona húmida de nidificação e/ou de alimentação de numerosas espécies de aves aquáticas, o Estuário do Mondego foi classificado como Sítio Oficial da Convenção RAMSAR, um habitat de importância internacional, não só pelas mencionadas espécies de aves, mas também pela existência de espécies piscícolas migratórias, como a lampreia, o sável e a savelha.

terça-feira, 27 de março de 2012

Mondego

O Rio Mondego
(Com a devida vénia, origem do texto: http://www.g-sat.net/rios-2261/rio-mondego-260359.html)

Mondego é um rio de Portugal, o mais importante de todos os que têm o seu curso exclusivamente em território português.

Comprimento: 234 km
Nascente: Serra da Estrela
Altitude da nascente: 1425 m
Foz: Figueira da Foz -Atlântico
Área da bacia: 6.644 km2

O Rio Mondego é o quinto maior rio português e o primeiro de todos os que têm o seu curso inteiramente em Portugal. Nasce na Serra da Estrela e tem a sua foz no Oceano Atlântico, junto à cidade da Figueira da Foz. É o rio que banha a cidade de Coimbra.
Antigamente, o rio Mondego era navegável. Os barcos (denominados 'barcas serranas') que vinham do Oceano Atlântico iam até Coimbra e os mais pequenos chegavam a ir mesmo até Penacova.

Aspetos físicos e naturais
Foto 1 - Arrozais e Cegonhas no Baixo Mondego
(Montemor-o-Velho)
Curso do rio
O rio Mondego tem um comprimento total de 234 quilómetros. A sua nascente situa-se na Serra da Estrela, no concelho de Gouveia, no sítio de Corgo das Mós (ou ‘’Mondeguinho’’), a uma altitude de cerca de 1425 metros. No seu percurso inicial, atravessa a Serra da Estrela, de sudoeste para nordeste, nos concelhos de Gouveia e Guarda. A poucos quilómetros desta cidade, junto à povoação de Vila Cortês do Mondego, atinge uma altitude inferior a 450 metros. Nesse ponto, inflete o seu curso, primeiro para noroeste e depois, já no concelho de Celorico da Beira, para sudoeste. Aqui se inicia o seu curso médio, ao longo do planalto beirão, cortando rochas graníticas e formações metamórficas. Depois de atravessar o concelho de Fornos de Algodres, o rio Mondego serve de fronteira entre os distritos de Viseu, a norte, e da Guarda e de Coimbra, a sul. Assim, delimita, na margem norte, os concelhos de Mangualde, Seia, Nelas, Carregal do Sal, Santa Comba Dão e Mortágua, enquanto que na margem sul serve de limite aos concelhos de Oliveira do Hospital, Tábua, Penacova e Vila Nova de Poiares. Entre Penacova e Coimbra, o rio percorre um apertado vale, num trajeto caracterizado por numerosos meandros encaixados. Depois de se libertar das formações xistosas e quartzíticas, e já nas imediações da cidade Coimbra, o rio inaugura o seu curso inferior, constituído pelos últimos quarenta quilómetros do seu trajeto e cumprindo um desnível de apenas 40 metros de altitude. Nesta última etapa, percorre uma vasta planície aluvial, cortando os concelhos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz, onde desagua, no Oceano Atlântico. Junto à sua foz forma-se um estuário com cerca de 25 km de comprimento e 3,5 km2 de área. Nos últimos 7,5 km do seu troço desdobra-se em dois braços (norte e sul), que voltam a unir-se junto à foz, formando entre si a pequena ilha da Murraceira.

Foto 2 - Cheias em Montemor-o-Velho
(Foto antiga, autor desconhecido)

Cheias
A causa principal da ocorrência das cheias nos rios é a incidência de precipitações intensas. A dimensão da bacia hidrográfica e o tipo de acontecimento meteorológico governam as características das cheias. No rio Mondego as cheias são relativamente rápidas, com tempos entre o início de cheia e o pico do caudal da ordem das poucas horas, podendo ser particularmente perigosas devido ao aumento brusco do nível de escoamento. As cheias no rio Mondego ocorreram desde pelo menos o século XIV, afectando a vida de uma importante cidade como Coimbra. Aqui, foi possível registar as cheias mais importantes, das quais se destacam as dos anos 1331, 1788, 1821, 1842, 1852, 1860, 1872, 1900, 1915, 1962, 1969 e 1979. Numa frequência empírica pode verificar-se que as cheias designadas como importantes tiveram um período de retorno de 50 anos. Pode ainda verificar-se que nos dois últimos séculos, com a mesma análise empírica, as cheias importantes têm um período de retorno de 20 anos. Tornava-se, assim, evidente a necessidade de intervenção para controlar as cheias.. Com a construção das barragens da Aguieira e da Raiva e do açude de Coimbra, foram construídos novos leitos aluvionares, incluindo 7,7 km de diques de defesa, uma dragagem de 16 hm3 e revestimentos de enrocamentos com um volume de 0,5 hm3. Os caudais de cheia em Coimbra eram da ordem dos 2500 m3/s, sendo amortecidos para 1200 m3/s através dos dois aproveitamentos referidos anteriormente. Na foz estão previstos caudais de 3000 m3/s..

Bacia hidrográfica
O rio Mondego drena uma bacia com uma área total de 6644 km2, tem uma orientação dominante Nordeste-Sudoeste,. A bacia ocupa o segundo lugar em área entre os rios cujas bacias se situam totalmente em território português. Ao longo do seu percurso recebe as águas de rios seus afluentes como o Dão, o Alva, o Ceira, o Ega (ou Rio dos Mouros) e o Arunca, entre outros de menor importância.
Grande parte do percurso, até Coimbra, (chamado Alto Mondego) faz-se através de um vale bastante encaixado em rochas metamórficas e granito. O troço terminal (designado por Baixo Mondego), com cerca de 40 km, percorre uma planície aluvial, extremamente fértil e onde se localizam alguns dos mais produtivos arrozais da Europa. A bacia hidrográfica do rio Mondego tem uma precipitação média anual de 1233 mm e um caudal médio anual de 108,3 m3/s. Na bacia hidrográfica do rio Mondego localizam-se inúmeros aproveitamentos hidráulicos. A capacidade total de armazenamento nas albufeiras localizadas nesta bacia é cerca de 540 hm3.

Origem do texto: http://www.g-sat.net/rios-2261/rio-mondego-260359.html

sexta-feira, 23 de março de 2012

INAUGURAÇÃO

Um espaço dedicado ao Mondego!

Dedicarei, essencialmente, este espaço ao Mondego, rio de riqueza incomensurável!

Biodiversidade, Geodiversidade... eis o Mondego no seu melhor!

Mas, para inauguração do espaço, nada como deixar a belíssima música de Coimbra...

Vale a pena ouvir!