quarta-feira, 25 de abril de 2012

Notícia


“IPCC da biodiversidade” tem criação aprovada
Agência FAPESP 

A Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês) teve sua criação aprovada no sábado (21/04), na Cidade do Panamá, depois de vários anos de intensas discussões internacionais.

O IPBES é um painel intergovernamental que terá a função de fazer com que o conhecimento científico acumulado sobre biodiversidade seja sistematizado para dar subsídios a decisões políticas em nível internacional. A cidade de Bonn (Alemanha) foi escolhida para sediar o secretariado do IPBES. O novo órgão teve sua implantação definida em junho de 2010 em uma reunião em Busan (Coreia do Sul) e sua criação foi ratificada em outubro de 2010, durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP10), realizada em Nagoia (Japão) e posteriormente referendada na Reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas. Em outubro de 2011, a primeira sessão plenária IPBES foi realizada em Nairóbi (Quênia), na sede do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

De acordo com o coordenador do encontro no Panamá, Robert Watson, que é conselheiro científico do Departamento para o Meio Ambiente, Alimentos e Negócios Rurais do Reino Unido, embora várias organizações e iniciativas contribuam para melhorar o diálogo entre gestores e comunidade científica no campo da biodiversidade, o IPBES se estabelecerá como uma nova plataforma, reconhecida tanto por cientistas como por gestores, a fim de enfrentar as lacunas existentes e fortalecer a interface entre ciência e poder público em relação aos serviços ecológicos.
Hoje, a biodiversidade venceu. Mais de 90 governos estabeleceram com sucesso a interface entre a ciência e a política pública para todos os países. A biodiversidade e os serviços ecológicos são essenciais para o bem-estar da humanidade. Essa plataforma irá gerar conhecimento e nos dará capacidade de protegê-los para as gerações futuras”, afirmou Watson.

A plataforma foi aprovada por 91 países que participaram da reunião. Apenas Bolívia, Egito e Venezuela deixaram de assinar o acordo. Segundo Irina Bokova, diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a criação do IPBES algumas semanas antes da Conferência Rio+20 é um forte sinal de que há um progresso significativo no que diz respeito à conservação da biodiversidade.
Espero que esse órgão permita que a biodiversidade seja levada em conta nas estratégias de desenvolvimento sustentável, assim como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, tem feito nos últimos 20 anos em relação às alterações do clima. A perda de biodiversidade é um indicador importante das mudanças que estão afetando o planeta”, afirmou.

Segundo o documento assinado no Panamá, as funções centrais do IPBES consistirão em: identificar e priorizar informação científica necessária para as políticas públicas e para catalisar esforços na geração de novo conhecimento; realizar avaliações regulares do conhecimento sobre a biodiversidade e os serviços ecológicos e suas interligações; apoiar a formulação e a implementação de políticas ao identificar ferramentas e metodologias relevantes; e priorizar a capacitação para o aprimoramento da interface entre ciência e política e fornecer financiamento e apoio para as necessidades de alta prioridade ligadas a suas atividades imediatas.

Mais informações: www.ipbes.net

sábado, 21 de abril de 2012

Notícia


Bona será a sede do novo painel internacional para a biodiversidade
20.04.2012
Helena Geraldes


(Texto e imagem original em: http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1542898)

"O novo organismo internacional que vai dar uma resposta global à perda de biodiversidade e dos ecossistemas do planeta, o IPBES, ficará com a sede em Bona, na Alemanha, foi decidido nesta sexta-feira numa conferência internacional.


Especialistas de todo o mundo estão reunidos até amanhã, sábado, na cidade do Panamá para pôr de pé a Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e os Serviços dos Ecossistemas (IPBES), organismo que recebeu “luz verde” da Assembleia-Geral das Nações Unidas a 20 de Dezembro de 2010. Portugal é representado nas negociações por Henrique Miguel Pereira, investigador do Centro de Biologia Ambiental (CBA) da Universidade de Lisboa.
Este painel independente vai, em grande medida, espelhar o Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC), que tem promovido o conhecimento global sobre as alterações climáticas, fazendo a ponte entre os investigadores e as soluções no terreno. O IPBES vai analisar e dar consistência aos estudos científicos de institutos de investigação espalhados pelo mundo e com eles elaborar relatórios para os governos, com o estado, a classificação e as tendências de espécies e ecossistemas e ainda as respostas políticas necessárias.
“A estrutura institucional da plataforma está a ser negociada”, diz hoje uma nota do CBA, nomeadamente como será feita a avaliação da biodiversidade e ecossistemas do planeta. Além disso, a reunião no Panamá está a discutir a “forma de capacitar cientificamente os países em vias de desenvolvimento e estabelecer a forma de nomeação de cientistas para os diferentes grupos de trabalho, bem como as contribuições financeiras de cada país”. 
Henrique Miguel Pereira considera que “este é um momento importante para a comunidade científica, que ao longo das últimas duas décadas tem estudado as alterações globais da biodiversidade e alertado para o impacto destas alterações no bem-estar humano”. Mas ainda há muito trabalho para fazer. “Agora vamos estabelecer um calendário para a avaliação científica dos principais problemas e trabalhar para que os países se comprometam a implementar as conclusões dessa avaliação”, acrescentou.
“A biodiversidade não conhece fronteiras e os ecossistemas também não: um grou (Grus grus) avistado durante o Inverno em Portugal pode ser avistado, no Verão seguinte, na Escandinávia ou na Sibéria; a Amazónia, uma floresta húmida cuja biodiversidade se mantém, em grande medida, desconhecida, estende-se ao longo de sete milhões de quilómetros quadrados, entre nove países sul-americanos”, lembra o CBA. 
“O IPBES representa um grande avanço em termos de organização de uma resposta global à perda de organismos vivos e de florestas, rios, recifes de coral e outros ecossistemas”, comentou Achim Steiner, director-executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, na altura da criação do IPBES, em Dezembro de 2010.
Depois de dois anos de negociações com os países do Sul, liderados pelo Brasil - que receavam um processo controlado pelo Norte e um potencial entrave ao seu desenvolvimento -, o princípio da criação do IPBES foi aprovado em Junho de 2010 na Coreia do Sul. Mas foi a adopção em Nagoia (Japão), em Outubro desse ano, de um acordo sobre a partilha dos benefícios de algumas indústrias biogenéticas com os países do Sul que permitiu levantar as últimas reticências, explicou à AFP Salvatore Arico, especialista em biodiversidade na Unesco, associada a este painel.
Em Nagoia os governos adoptaram ainda um novo plano estratégico com metas para travar a perda da biodiversidade até 2020. Por exemplo, os governo aceitaram aumentar a superfície das áreas protegidas de 12,5% para 17% da superfície da Terra e passar as áreas marinhas protegidas do actual 1% para 10%.
De acordo com a ONU, o actual ritmo de perda das espécies, causado pelas actividades humanas, é "mais de cem vezes superior ao da extinção natural". Hoje estão ameaçadas de extinção ao nível mundial uma em cada três espécies de anfíbios, mais de uma espécie de aves em cada oito, mais de um mamífero em cada cinco e mais de uma espécie de conífera em cada quatro."

sexta-feira, 20 de abril de 2012

BGC - Tema 2


Ameaças à Biodiversidade


A biodiversidade ou diversidade biológica é a 
“variabilidade entre organismos vivos de todas as origens [...]; 
compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre espécies e dos ecossistemas” 
(Convenção da Diversidade Biológica).
A Terra está a perder biodiversidade a uma taxa sem precedentes. 
No Dia Internacional da Biodiversidade, 22 de Maio, as alterações climáticas 
voltam a constituir a preocupação central assumindo-se como uma das 
maiores ameaças à diversidade de vida no Planeta, 
juntamente com a destruição de habitats, poluição e 
proliferação de espécies invasoras.” [5]
(Quercus, em 22 de Maio de 2007)


1 - Introdução

Já fomos aflorando, em artigos anteriores, algumas das ameaças à biodiversidade. A sociedade deve adquirir, a escala global, consciência e responsabilidade dos efeitos nefastos das mais diversas atividades sobre a diversidade biológica e riscos que os nossos comportamentos têm para a mesma.
Relembro aqui que, na publicação de 28 de março, intitulada “Biodiversidade no Mondego” se refere, aplicável ao local: “Entre os principais fatores de perturbação, degradação e destruição dos ecossistemas aquáticos e terrestres associados contam-se: desenvolvimento urbano e industrial, desenvolvimento agrícola, construção de barragens, extração ilegal de areias, atividades lúdico-recreativas, atividade florestal, fogos florestais, invasão de espécies exóticas, caça e a pesca.”. [1]

Mas não são só este ou similares sistemas que estão ameaçados porque a biodiversidade não se confina só a eles. Daí, no artigo publicado em 30 de Março e denominado “Valores da Biodiversidade” se referir que”(…) deve saber-se quais e o que são os seus pontos críticos: "um ponto crítico (hot spot) de Biodiversidade é um local com muitas espécies endêmicas. Ocorrem geralmente em áreas de impacto humano crescente. A maioria deles está localizada nos trópicos. Como pontos importantes destacámos o Brasil, que tem 1/5 da Biodiversidade mundial, com 50 000 espécies de plantas, 5 000 de vertebrados, 10-15 milhões de insetos, milhões de micro-organismos, e a a Índia, que apresenta 8% das espécies descritas, com 47 000 espécies de plantas e 81 000 de animais.” [2]
Segundo Nicolau, 2012, “depois de conhecermos e sentirmos o que é o Conceito e os múltiplos Valores da Biodiversidade, o passo seguinte é conhecer quais as Ameaças à Biodiversidade.” A abordagem que se segue é a resposta a esse desafio.


2 - Síntese das principais ameaças

Devem ser preocupantes para o ser humano, em geral, e para os decisores, em particular, as taxas alarmantes de degradação de habitats e de extinção de espécies. São muitas as ameaças a ter em conta e cada dia surgem novas formas nocivas à diversidade biológica: a difusão de espécies alóctones invasivas; a poluição do ambiente natural e dos habitats; a mundialização, que aumenta a pressão devida ao comércio, e, até, a má governação (incapacidade de reconhecer o valor económico do capital natural e dos serviços ecossistémicos). Assim, a destruição, degradação e fragmentação dos habitats, as alterações climáticas, a poluição, a sobre-exploração dos recursos, a introdução de espécies exóticas e o aumento na dispersão de doenças contam-se entre as principais ameaças e as seguintes são as mais conhecidas e estudadas, sem prejuízo de outras que, embora, com menos gravidade todos os dias deixam marcas indeléveis (e irreversíveis) sobre as espécies:


2.1 - Destruição, degradação e fragmentação do habitat - Esta é, por certo, a principal ameaça: o abate de árvores para obtenção de madeira é muito frequente nas zonas tropicais, bem como a destruição de florestas, para converter os terrenos em zonas agrícolas. Estes dois fatores são os maiores responsáveis pela perda de biodiversidade. A urbanização crescente, a construção de grandes redes viárias, portos e aeroportos, barragens e outras infraestruturas e a drenagem de zonas húmidas são outras das principais causas de destruição e degradação do habitat. A construção de cada vez maiores infraestruturas rodoviárias e aeroportuárias tem contribuído para perdas elevadíssimas, assim como práticas destrutivas de uso e aproveitamento da terra: abate e exploração de florestas  para produção de combustível, materiais de construção, produção de sal, exploração de areias costeiras e minerais e shrimp farming. Aspeto muito importante a merecer a atenção prende-se com as mudanças na utilização dos solos, que fragmentam, degradam e destroem os habitats. Esta mudança de afetação deve-se, principalmente, ao crescimento demográfico e ao aumento do consumo por habitante, dois fatores que irão intensificar-se no futuro e gerar maiores pressões.


2.2 - As alterações climáticas – responsáveis pela destruição de inúmeros habitats e organismos, perturbadoras dos ciclos de reprodução, obrigam os organismos móveis a deslocar-se, originam mudança nos cursos dos rios resultando no aumento da sedimentação de sistemas marinhos, mudam a temperatura das águas, resultando na mudança dos habitats, e até, por força daquelas, temos branqueamento dos corais, entre muitos outros. Sendo certo que o planeta Terra desde a sua origem sempre sofreu alterações profundas no clima, alternando entre períodos glaciares e outros de clima mais ameno, por diversos fatores (alterações na intensidade da radiação solar, na inclinação do eixo da Terra e na curvatura da sua orbita em torno do Sol, alterando o clima numa escala milenar), e ainda à disposição dos continentes, alterações nas correntes marinhas e de composição da atmosfera, bem como eventos como o impacto de meteoritos ou a erupção de vulcões, é também mais que certo que a ação do Homem nos últimos dois séculos (pior no séc. XX) tem produzido alterações climáticas, principalmente através da emissão de gases com efeito de estufa, que provocam um aquecimento global do clima.
2.2.1 - Efeito de Estufa - Todos tem ideia do que é uma estufa: envidraçada ou coberta de plástico transparente onde o ar é aquecido. Esta imagem pode e deve ser transposta para compreendermos a atmosfera da Terra que funciona em mecanismo similar relativamente ao planeta, pela existência de gases tão necessários à passagem dos raios solares e à retenção do calor que é irradiado, gases esses sem os quais o planeta teria temperaturas baixas e seria inabitável, destacando-se como principal gás o vapor de água. Todavia quando se fala de gases com efeito de estufa fala-se principalmente de seis compostos, sendo 3 naturais, o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), e os outros 3 fruto das atividades humanas: os hidrofluorcarbonetos (HFC), os perfluorcarbonetos (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). [4]  O dióxido de carbono é o mais nefasto contribuindo para o aumento da temperatura global nos últimos 50 anos e serve como indicador comum para medir todos os gases com efeito de estufa sendo as emissões de todos os outros gases expressas em “equivalentes de dióxido de carbono”. [4]
2.2.2 - Consequências do aquecimento global - São inegáveis as modificações nos ecossistemas que a subida das temperaturas vai provocar, com consequências em perda de área florestal, não só pela seca como pelo aumento dos incêndios e as espécies que vivem no limite de tolerância do calor ou em zonas frias estarão sob maior risco. “Daí a maior consequência advir do aumento da temperatura média, que subiu cerca de 0,6 ºC no século XX, e, até 2100, poderá aumentar entre 1,4 e 5,8 ºC, prevendo-se que o maior aquecimento ocorrerá em latitudes altas no hemisfério Norte e na Antártida” [4]. As alterações surgirão no nível do mar que “poderá subir entre 9 e 88 cm até 2100, pela “dilatação” dos oceanos e do derretimento de glaciares e calotas polares” [4]. A erosão costeira vai aumentar, pondo em risco povoações e infra-estruturas. Os ecossistemas serão muito afetados, como recifes de coral, estuários e mangais, todos sistemas de grande produtividade e que são usados por uma quantidade enorme de espécies como local de refúgio e de reprodução. Os ecossistemas polares serão também muito afetados. Já começamos a sentir, também, fenómenos meteorológicos extremos como dias muito quentes, secas prolongadas, tempestades e cheias.
2.2.3 – Atividades afetadas - A agricultura até pode aumentar nalgumas regiões, mas no geral deverá diminuir e, no essencial, será modificada afetando o equilíbrio natural da biodiversidade dos diversos locais. O risco de desertificação aumentará e ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos também será previsivelmente negativa para a produção agrícola. Na saúde a mortalidade pelo frio poderá diminuir, mas a ocorrência de ondas de calor aumentará a mortalidade devida a problemas cardiorrespiratórios. “Num mundo mais quente e húmido, os insetos que transmitem doenças como a malária, o dengue e a febre-amarela não só estarão presentes por períodos mais longos, como aumentarão a sua área de distribuição. A cólera e as salmonelas também poderão ser mais frequentes, devido, por exemplo, a uma maior incidência de cheias. Outra doença em expansão possivelmente associada a alterações climáticas é a febre do Nilo”. [4]


2.3 - Sobre-exploração dos recursos biológicos - Algumas espécies, tanto animais como vegetais, são sobre exploradas como recurso, ao ponto de serem colocadas em risco de extinção, ou de se desequilibrar o ecossistema em que vivem. Alguns exemplos são a pesca excessiva, a caça excessiva, o abate de árvores para madeira, o abate de espécies para obtenção de peles e mesmo a recolha de borboletas e outros animais para colecionismo. Por exemplo, no mar, assistimos, com cada vez maior frequência a essa sobre-exploração de recursos atingindo espécies de coral e peixes pelágicos, invertebrados (sea cucumbers, lagostas e moluscos), corais e peixes ornamentais.


2.4 – A Poluição - resulta da introdução de poluentes no ambiente, daí resultando efeitos nocivos tanto para os ecossistemas como para a saúde humana. Os poluentes podem ser dos mais variados tipos: substâncias químicas, radioatividade, calor, luz, ruído ou energia. Na água a atividade humana produz efeitos adversos nas massas de água, desde os mares, rios e lagos às águas subterrâneas. Os poluentes da água incluem um largo espectro de químicos e agentes patogénicos e podem causar alterações nas propriedades físico-químicas da água, incluindo a sua temperatura, oxigenação, pH ou condutividade. Os fenómenos que mais ameaçam a Biodiversidade passam pela contaminação microbiológica da água, contaminação da água por nitratos, excesso de matéria orgânica na água, salinização da água doce, acidificação da água, contaminação da água por metais pesados, contaminação da água por pesticidas, contaminação da água por hidrocarbonetos, contaminação radioativa da água, tratamento da água. 
No ar a poluição é a contaminação do ar pela descarga de agentes químicos, físicos ou biológicos que modificam as características naturais da atmosfera e representa um perigo direto não só para a saúde humana, não só através da inalação do ar contaminado, mas também pela ingestão de alimentos contaminados por terem estado em contacto com a atmosfera, mas, também, e essa é, aqui a nossa abordagem, afeta os ecossistemas, na medida em que a poluição do ar facilmente se transfere para a água e muitos poluentes se acumulam na cadeia trófica. Os ecossistemas são ainda afetados pelas chuvas ácidas e pela excessiva deposição de nutrientes no solo. Os poluentes atmosféricos são responsáveis por problemas ambientais globais como as alterações climáticas, já abordados, e o buraco na camada de ozono.
Temos ainda a considerar outros tipos de poluição, como a luminosa e a sonora, sendo que, na primeira, o uso crescente da luz artificial pode, no entanto, causar problemas ambientais e, na segunda que a poluição sonora corresponde a ruído com origem antropogénica que pela sua intensidade e duração prejudica o meio ambiente e a própria saúde humana e, ao contrário da poluição do ar, água ou solos, não deixa resíduos, e quando a fonte do ruído é extinta a poluição termina, por isso tem sido considerada menos importante e menos gravosa. No entanto, a poluição sonora pode causar efeitos crónicos e irreversíveis, que em boa parte ainda estão pouco estudados.


2.5 - Introdução de espécies exóticas - A área de distribuição da maioria das espécies é impedida de se expandir por barreiras físicas, ambientais e climáticas. Um resultado deste isolamento geográfico é que os processos de evolução seguiram caminhos diferentes em cada área do mundo. O ser humano alterou radicalmente este cenário ao transportar espécies de uns locais para os outros. Foram três os principais processos de introdução de espécies:
i) a colonização europeia, dado que os colonos europeus chegaram a todas as regiões do globo levando consigo inúmeras espécies de aves e mamíferos, muitas vezes apenas com o intuito de tornar o campo nesses locais mais parecido com a sua terra natal. Ao mesmo tempo os Europeus trouxeram consigo várias espécies exóticas que introduziram no seu território ou noutras colónias. Exemplos dos dois lados deste fenómeno são a introdução do Pardal europeu na América do Norte, por onde se expandiu rapidamente; e o cada vez maior número de aves exóticas ornamentais provenientes de cativeiro que estabelecem populações assilvestradas na Europa, 
ii) a agricultura, horticultura e pecuária, dado que um grande número de espécies de plantas e animais foram introduzidas longe do seu local de origem, para fins agrícolas ou pecuários. Muitas destas espécies escaparam do cultivo ou da zona de produção e estabeleceram-se nas comunidades locais. 
iii) o transporte acidental, porque muitas espécies são transportadas pelo ser humano sem intenção. Exemplos comuns incluem as sementes que são colhidas em conjunto com as das espécies cultivadas, e depois semeadas acidentalmente noutro local; ratos e insectos que viajam entre continentes em barcos de carga; os barcos frequentemente trazem espécies exóticas no seu lastro; muitas doenças e parasitas viajam com os seus hospedeiros.
iv) Aumento da dispersão de doenças - A acção do Homem pôs em contacto com espécies selvagens, doenças e parasitas com diversas proveniências, pondo em risco a sua sobrevivência.


2.6 – Outros - No entanto se existem ameaças para a agricultura e a pecuária é bom que se tenha noção que elas próprias também podem ser ameaças: a alimentação da população crescente do planeta tem sido, sem dúvida, uma preocupação justificada mas temos de nos interrogar sobre se os meios utilizados têm sido os mais adequados. Sabemos que menos de 30 espécies vegetais fornecem 90 por cento dos géneros alimentares da população mundial. A agricultura em regime intensivo tem sido um dos métodos praticados para produzir alimentos, mas ela tem-se traduzido em algumas regiões em sistemas de monocultura que empobrecem a biodiversidade. Referindo-se às Antilhas, escreveu um autor cubano: «Foi em Cuba que a plantação de cana-de-açúcar causou mais estragos no meio ambiente e na biodiversidade; foi aí onde a monoprodução e a tecnologia estrangeira, a indiferença oficial e o oportunismo económico ganharam o primeiro combate contra a natureza.». Os eucaliptais em Portugal são, também, disso um exemplo (ver vídeo “Mondego”, de Daniel Pinheiro) A «monocultura» de determinadas variedades de frangos domésticos em quintas do mundo inteiro estaria a facilitar a propagação de doenças como a gripe das aves. Alguns cientistas argumentam que “se os países apostassem na biodiversidade e valorizassem as aves típicas de cada região, isso seria uma «barreira natural» ao avanço de alguns vírus.” Temos ainda que considerar que vítimas da negligência ou da ganância do Homem, milhares de espécies animais e vegetais desapareceram da face da Terra ou estão hoje ameaçadas de extinção. São nada menos de 28 270 as espécies já extintas, em perigo de extinção, vulneráveis ou que são motivo de preocupação, de acordo com a mais recente Lista Vermelha elaborada anualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN – organismo sedeado na Suíça que reúne 82 Estados, 111 agências governamentais e mais de 800 ONG).


3 – Considerações Finais

A biodiversidade tem aumentado desde a origem da vida terrestre, embora de forma descontínua, atingindo o seu pico máximo antes do aparecimento da humanidade e tendo vindo a decrescer desde então”. [3]

O problema da redução da biodiversidade assumiu, principalmente nas últimas décadas, proporções nunca antes atingidas, conforme aponta o Relatório da Diversidade Biológica, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) em 1995. “A taxa atual de extinção é cerca de 100-1000 vezes superior à taxa natural. Cerca de 99.9% das espécies terrestres estão extintas e a sobrevivência de muitas está ameaçada, como o Panda na China, os gorilas em África (o Gabão e a República do Congo possuem cerca de 80% da população mundial de gorilas), o lobo e o lince ibérico em Portugal (estima-se que não haja mais do que 50 linces ibéricos em Portugal). Cerca de 8.5% das espécies de vertebrados ameaçadas globalmente ocorrem na Europa e na Ásia Central.” [3]

As atividades humanas têm contribuído para a perda de biodiversidade (à nossa escala temporal), sobretudo, como se expôs pela consequente destruição de habitats pela poluição e sobreexploração e as alterações climáticas são um fenómeno global, cuja causa está associada, principalmente, ao estilo de vida dos países industrializados. 
Temos pela frente uma longa e hercúlea tarefa e a comunidade internacional já entendeu que a única forma de travar, por exemplo, o aquecimento global é através da obtenção de acordos políticos globais que limitem a emissão de gases causadores do efeito de estufa e disso são exemplos a convenção-quadro para as alterações climáticas e o protocolo de Quioto sendo que a conservação da biodiversidade constitui um objetivo fundamental da Estratégia da União Europeia em favor do desenvolvimento sustentável e do Sexto Programa Comunitário de Ação em matéria de Ambiente.

A extinção de espécies é «um fenómeno natural, mas a taxa de extinção a que assistimos actualmente é entre cem e mil vezes superior a tudo o que conhecíamos antes», afirma Anne Larigauderie, diretora do grupo ambientalista Diversitas, sediado em Paris; «É uma perda sem precedentes.»
Os cientistas são unânimes em afirmar que «as perdas de biodiversidade são essencialmente irreversíveis, constituem uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável e à qualidade de vida das futuras gerações». 
Por isso, há que fazer alguma coisa no sentido de reverter a perda de recursos naturais e recuperar, quando possível, as áreas degradadas. Algum trabalho já começou e algumas tarefas permitem vislumbrar preocupação com este assunto verdadeiramente importante e fundamental para a sobrevivência do planeta. 

Fontes e consultas:
•Millennium Ecosystem Assessment (2005) "Causes of Biodiversity change", pp. 8-10. 
• Millennium Ecosystem Assessment (2005) "What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends", pp. 42-59, 
•Myers, N. (1996) “The rich diversity of biodiversity issues” pp. 125-138. In M. Reaka-Kudla, D.E. Wilson, & E.O. Wilson (eds.) Biodiversity II: understanding and protecting our biological resources, Joseph Henry Press, Washington, D.C..
[2] -  http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622, consultada em 28 de Março de 2012
[4] - http://www.terramater.pt/?pag=117, consultado em 20 de Abril de 2012,



quarta-feira, 4 de abril de 2012

POESIA

Todas as Opiniões que Há sobre a Natureza
(Alberto Caeiro)

Todas as opiniões que há sobre a Natureza
Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.
Toda a sabedoria a respeito das cousas
Nunca foi cousa em que pudesse pegar como nas cousas;
Se a ciência quer ser verdadeira,
Que ciência mais verdadeira que a das cousas sem ciência?


Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito
Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.
Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas.

in "Poemas Inconjuntos"
(Alberto Caeiro, Heterónimo de Fernando Pessoa)

domingo, 1 de abril de 2012

Notícia

União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais 
(Fonte do texto, com a devida vénia ao autor: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622)

"A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN ou World Conservation Union, inglês) é uma organização internacional dedicada à conservação dos recursos naturais.
Fundada em 1948, a sede está localizada em Gland, Suíça, reúne 84 nações, 112 agências de governo, 735 ONGs e milhares de especialistas e cientistas de 181 países, estando entre as principais organizações ambientais do mundo.
A missão da IUCN é influenciar, encorajar e assistir sociedades em todo o mundo na conservação da integridade e biodiversidade da natureza, e assegurar que todo e qualquer uso dos recursos naturais seja equitativo e ecologicamente sustentável.


Estas são as Categorias de áreas de Manejo Protegido que existem:

•Ia - Reserva Estrita da Natureza 
Área de terra e/ou mar que possui algum ecossistema, aspecto e/ou tipo geológico ou fisiológico, importante ou representativo, disponível primariamente para pesquisa científica e/ou monitoramento ambiental. 
•Ib - Área Selvagem 
Grande área de terra e/ou mar não modificada ou pouco modificada, que mantém seus caráter e influência naturais, sem habitação permanente ou significativa, a qual é protegida e manejada de modo a preservar sua condição natural. 
•II - Parque Nacional - Área natural de terra e/ou mar, destinada a: 
1.proteger a integridade ecológica de um ou mais ecossistemas para a geração atual e as futuras; 
2.excluir a exploração ou ocupação inimiga dos propósitos indicados para a área; 
3.fornecer uma base para oportunidades espirituais, científicas, educacionais, recreativas e de visita, que devem ser todas ambiental e culturalmente compatíveis. 
•III - Monumento Natural 
Área contendo uma, ou mais, características natural/cultural que é de valor significativo ou único devido a sua raridade, qualidades representativa ou estética, ou significância cultural inerente. 
•IV - Área de Manejo de Habitat/Espécie 
Área de terra e/ou mar sujeita a intervenção ativa com o propósito de manejo para garantir a manutenção de habitats e/ou satisfazer as necessidades de determinadas espécies . 
•V - Paisagem/Costa Protegida 
Área de terra ligada à costa e mar, onde a interação entre pessoas e natureza ao longo do tempo produziu uma área de caráter distinto com valor estético, ecológico e/ou cultural significativo, geralmente com grande diversidade biológica. Salvaguardar a integridade desta interação tradicional é vital para a proteção, manutenção e evolução de tal área. 
•VI - Área Protegida de Manejo de Recursos 
Área que contém predominantemente sistemas naturais não modificados, manejada para garantir proteção e manutenção a longo prazo da diversidade biológica, embora suprindo ao mesmo tempo um fluxo sustentável de produtos naturais e serviços para satisfazer as necessidades da comunidade."

Notícia

Alterações climáticas ameaçam biodiversidade em Portugal
(Fonte do texto, com a devida vénia ao autor: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=622)

Portugal será um dos países mais afetados pelas alterações climáticas em termos de perda da biodiversidade, avisou a associação ambientalista Quercus, alertando para a vulnerabilidade dos ecossistemas às secas e incêndios devido à subida das temperaturas.

No Dia Internacional da Biodiversidade, a Quercus relembrou que o planeta está a perder biodiversidade a uma taxa sem precedentes, sendo as alterações climáticas uma das maiores ameaças à diversidade da vida, juntamente com a destruição de habitats, poluição e proliferação de espécies invasoras. "Os ecossistemas mediterrânicos, incluindo os de Portugal, estão entre os mais vulneráveis a uma subida de 2 a 5 graus centígrados, sob um efeito combinado da seca e dos fogos florestais", referem os ambientalistas num comunicado.

Igualmente alarmante para Portugal, acrescentam, é a diminuição do potencial hidrelétrico entre 20 a 50 por cento, no Sul da Europa, até 2070.
Na Europa, a subida do nível do mar poderá ser até 50 por cento mais acentuada do que a média global e cerca de 20 por cento das zonas húmidas correm o risco de desaparecer até 2080.
"Os anfíbios na Península Ibérica serão especialmente afetados e condenados a viver em áreas cada vez mais limitadas, tal como os répteis, que dependem de charcos e pântanos para a sua reprodução. Quanto às florestas, já estão a sofrer dos Verões excessivamente quentes e consecutivos incêndios florestais, aos quais se irá juntar a problemática da escassez de água", sublinhou a Quercus.
Mais de 40 por cento dos vertebrados existentes em Portugal enfrenta algum grau de ameaça, sendo os peixes o grupo com mais espécies em perigo, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal publicado em 2006.

A avaliação, que abrangeu 512 espécies selvagens de vertebrados no Continente, Açores e Madeira, apurou que quase metade (42 por cento) das espécies estudadas estão ameaçadas ou quase ameaçadas relativamente ao risco de extinção. Cerca de 46 por cento não estão consideradas como ameaçadas (categoria Pouco Preocupante) e sobre os restantes 12 por cento não existe conhecimento suficiente. Os peixes de água doce e migradores apresentaram a percentagem mais elevada de animais classificados em categorias de ameaçadas (Criticamente em Perigo, Em Perigo, Vulneráveis) ou quase ameaçadas: 69 por cento.

A Quercus aponta várias medidas a adotar para preservar a biodiversidade, como a criação de refúgios e a preservação de habitats que permitam uma adaptação de longo termo, o estabelecimento de redes de áreas protegidas terrestres, aquáticas e marinhas e o reforço da investigação sobre as ligações entre alterações climáticas e biodiversidade.

As alterações climáticas já estão a obrigar as espécies a adaptar-se, seja através de mudanças de habitat, alterações nos ciclos de vida, ou o desenvolvimento de novas características físicas.
Porém, nem todas conseguirão fazê-lo. As previsões indicam que cerca de um milhão de espécies serão extintas devido ao aquecimento global.