domingo, 20 de maio de 2012

BGC - Tema 4

AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE
(Alterado / Republicado em 22 de Maio de 2012)


1. Contextualização

Tal como já ficou bem explicito em publicações anteriores neste blogue, a Geodiversidade “é um dos pilares da Natureza,” e, além do seu inegável valor intrínseco “é o suporte físico da biodiversidade.” [1]. De acordo com Nascimento et al, 2008, é definido como “[...] a variedade natural de aspetos geológicos (minerais, rochas e fósseis), geomorfológicos (formas de relevo, processos) e do solo. Inclui as suas coleções, relações, propriedades, interpretações e sistemas” [2]

Assim, nunca é demais relembrar, no sentido de entendermos o que são as “Ameaças”, que Geodiversidade - em geral - pode ser entendida como a variedade (a diversidade) de elementos e processos geológicos, sob qualquer forma, a qualquer escala e a qualquer nível de integração, sendo elementos, entre outros, as rochas, os fósseis, os estratos geológicos,  os solos, os recursos minerais, o petróleo, as águas subterrâneas, o carvão mineral mas, também, as estruturas geológicas, as paisagens e o relevo da superfície terrestre, e a geodiversidade, tal como a biodiversidade, e a diversidade cultural, constitui um valor fundamental do mundo em que vivemos. [3]

Segundo Brilha, 2005:40, “a maior parte das ameaças à geodiversidade advém, direta ou indiretamente, da atividade humana” e na sequência do parágrafo anterior “não existem grandes diferenças no que respeita às ameaças para com a geo ou a biodiversidade”[5]. Posto neste prisma fica bem claro que é imperativo e imprescindível a sua proteção, não apenas pelo lado ético, mas também porque é condição essencial para o  desenvolvimento sustentável e para melhor qualidade de vida e, está provado, a proteção não existe se nela não incluirmos geodiversidade.[3] Daí a urgente necessidade da identificação e diagnóstico das “Ameaças”, mote para este artigo.

Reconhecer que a Geodiversidade está sujeita a ameaças graves idênticas, e por vezes correlacionadas, às que pressionam a biodiversidade, implica, também, perceber um aspeto fundamental: “que a geologia apesar da resiliência “natural” não é imune às intervenções humanas por muito lentos e invisíveis ao olhar humano que os efeitos de tais intervenções possam parecer.” O facto de algumas dessas intervenções serem efetivas há tempo demais facilita a sua incorporação na leitura do sítio geológico quase como elementos dominantes, caso do “Cabo Mondego” que já aqui vos apresentei e que, sendo um caso em particular, é um bom ponto de partida para o entendimento deste artigo de ordem mais abrangente.

2. Ameaças

Desde sempre o planeta foi alvo de fenómenos geológicos e que, em milhões de anos, o alteraram de forma radical porquanto ocorrem na Terra desde a sua formação. Mesmo os acontecimentos mais destrutivos, como os sismos e as erupções vulcânicas fazem parte do normal funcionamento do nosso planeta. Todavia, com o crescimento da população humana, grandes áreas da superfície terrestre foram ocupadas. A exploração e ocupação desordenadas agravam os riscos naturais e impõem a necessidade de um ordenamento eficaz do território, seja em termos de simples ocupação, seja nas atividades [3].

Assim e fruto dessas atividades humanas constituem ameaças à geodiversidade (Brilha, 2005:40-51), a exploração dos recursos geológicos, o desenvolvimento de obras e infraestruturas, a gestão das bacias hidrográficas, a florestação, desflorestação e agricultura, as atividades militares, as atividades recreativas e turísticas, a colheita de amostras geológicas para fins não científicos e a iliteracia cultural [5]. Todavia, além destas e em escalas menores muitas outras contribuem para a destruição geológica e, aqui, não podemos esquecer a poluição dos solos, das águas (a todos os níveis dado que mesmo ao nível atmosférico são grandes os impactes nos solos, por força do ciclo), o ordenamento do território (principalmente junto à costa).

Um exercício interessante que convido a fazer é uma análise detalhada da publicação “Ameaças à biodiversidade” e a analogia flagrante entre as ameaças aí descritas e as aplicáveis à geodiversidade, acima referidas ou não, e prova clara de que (Brilha, 2005:40): “não existem grandes diferenças no que respeita às ameaças para com a geo ou a biodiversidade”[5]:


2.1 - Destruição, degradação e fragmentação do habitat - Esta é, por certo, a principal ameaça: o abate de árvores para obtenção de madeira é muito frequente nas zonas tropicais, bem como a destruição de florestas, para converter os terrenos em zonas agrícolas. Esta alteração de uso dos solos interfere de forma muito visível nos seus aspetos físico e químicos. A urbanização crescente, a construção de grandes redes viárias, portos e aeroportos, barragens e outras infraestruturas, com enormes volumes de massas movimentadas, fragmentadas e destruídas, e a drenagem de zonas húmidas são outras das principais causas de destruição e degradação. A construção de cada vez maiores infraestruturas rodoviárias e aeroportuárias tem contribuído para perdas elevadíssimas, assim como práticas destrutivas de uso e aproveitamento da terra: abate e exploração de florestas para produção de combustível, materiais de construção, produção de sal, exploração de areias costeiras e minerais e shrimp farming. Aspeto muito importante a merecer a atenção prende-se com as mudanças na utilização dos solos, que os fragmentam, degradam e destroem. Esta mudança de afetação deve-se, principalmente, ao crescimento demográfico e ao aumento do consumo por habitante, dois fatores que irão intensificar-se no futuro e gerar maiores pressões.


2.2 - As alterações climáticas – Entre outros originam mudança nos cursos dos rios resultando no aumento da sedimentação de sistemas marinhos, mudam a temperatura das águas, e até, por força daquelas, temos branqueamento dos corais, entre muitos outros. Sendo certo que o planeta Terra desde a sua origem sempre sofreu alterações profundas no clima, alternando entre períodos glaciares e outros de clima mais ameno, por diversos fatores (alterações na intensidade da radiação solar, na inclinação do eixo da Terra e na curvatura da sua orbita em torno do Sol, alterando o clima numa escala milenar), e ainda à disposição dos continentes, alterações nas correntes marinhas e de composição da atmosfera, bem como eventos como o impacto de meteoritos ou a erupção de vulcões, é também mais que certo que a ação do Homem nos últimos dois séculos (pior no séc. XX) tem produzido alterações climáticas, principalmente através da emissão de gases com efeito de estufa, que provocam um aquecimento global do clima. Esta alteração de clima, embora em processo muto lento, interfere com os processos geológicos.
2.2.1 - Efeito de Estufa – A atmosfera da Terra funciona em mecanismo similar relativamente ao planeta, pela existência de gases tão necessários à passagem dos raios solares e à retenção do calor que é irradiado, gases esses sem os quais o planeta teria temperaturas baixas e seria inabitável, destacando-se como principal gás o vapor de água. Todavia quando se fala de gases com efeito de estufa fala-se principalmente de seis compostos, sendo 3 naturais, o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), e os outros 3 fruto das atividades humanas: os hidrofluorcarbonetos (HFC), os perfluorcarbonetos (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). [7]  O dióxido de carbono é o mais nefasto contribuindo para o aumento da temperatura global nos últimos 50 anos e serve como indicador comum para medir todos os gases com efeito de estufa sendo as emissões de todos os outros gases expressas em “equivalentes de dióxido de carbono”. [7]
2.2.2 - Consequências do aquecimento global - São inegáveis as modificações nos que a subida das temperaturas vai provocar, com consequências em perda de área florestal, não só pela seca como pelo aumento dos incêndios. “Daí a maior consequência advir do aumento da temperatura média, que subiu cerca de 0,6 ºC no século XX, e, até 2100, poderá aumentar entre 1,4 e 5,8 ºC, prevendo-se que o maior aquecimento ocorrerá em latitudes altas no hemisfério Norte e na Antártida” [4]. As alterações surgirão no nível do mar que “poderá subir entre 9 e 88 cm até 2100, pela “dilatação” dos oceanos e do derretimento de glaciares e calotas polares” [4]. Erosão costeira vai aumentar, pondo em risco povoações/infra-estruturas. Serão muito afetados recifes de coral, estuários e mangais.


2.3 - Sobre-exploração dos recursos geológicos – Algum locais e/ou materiais geológicos, são sobre exploradas como recurso, ao ponto de serem colocadas em risco de extinção, ou de se desequilibrar o ecossistema que neles vivem. Muitos assentam na valorização do aspeto económico do recurso geológico, cuja dimensão não renovável, finita não é considerada; perda parcial ou total do recurso já que a exploração só é interrompida no limite ou suspensa devido a crises de mercado, interrupção do processo natural desequilibrando as relações geológicas e enfraquecendo as estruturas face a outros fenómenos naturais (sismos), perda de acesso por parte das populações face ao risco das explorações e perda de valor estético, poluição e impacto visual com produção de ruídos e poeiras nocivos aos ecossistemas envolventes, perda de visibilidade e de interesse com a escavação da pedreira a dominar a imagem do sítio, são apenas algumas das ameaças diretas e indiretas que se podem elencar [3]. 


2.4 – A Poluição – Este assunto é de tal forma importante que a ele dedicamos um outro ponto intitulado “Poluição dos solos”. Esta resulta da introdução de poluentes no ambiente, daí resultando efeitos nocivos para a diversidade geológica. Os poluentes podem ser dos mais variados tipos: substâncias químicas, radioatividade, calor, luz, ruído ou energia. Na água a atividade humana produz efeitos adversos nas massas de água, desde os mares, rios e lagos às águas subterrâneas. Os poluentes da água incluem um largo espectro de químicos e agentes patogénicos e podem causar alterações nas propriedades físico-químicas da água, incluindo a sua temperatura, oxigenação, pH ou condutividade, alterações essas que se vão refletir, inequivocamente sobre a geodiversidade.


2.5 – Outros – Nunca será demais lembrar o que acima referimos (Brilha, 2005:40-51): "a exploração dos recursos geológicos, o desenvolvimento de obras e infraestruturas, a gestão das bacias hidrográficas, a florestação, desflorestação e agricultura, as atividades militares, as atividades recreativas e turísticas, a colheita de amostras geológicas para fins não científicos e a iliteracia cultural [5]. Todavia, além destas e em escalas menores muitas outras contribuem para a destruição geológica e, aqui, não podemos esquecer a poluição dos solos, das águas (a todos os níveis dado que mesmo ao nível atmosférico são grandes os impactes nos solos, por força do ciclo), o ordenamento do território (principalmente junto à costa)."

3 . Conclusão


Os fenómenos geológicos fazem parte da história do planeta e nele ocorrem desde a sua formação. “Mesmo os acontecimentos mais destrutivos, como os sismos e as erupções vulcânicas fazem parte do normal funcionamento do nosso planeta. Com o crescimento da população humana, grandes áreas da superfície terrestre foram ocupadas. A ocupação desordenada agrava os riscos naturais e impõe a necessidade de um ordenamento eficaz do território” [3]

No ritmo a que esta sociedade consumista caminha cada vez é mais difícil contornar os graves problemas associados às perdas de geodiversidade já não bastando “estabelecer limites à exploração dos recursos, reduzindo planos de lavra e elaborando planos de requalificação; importaria descobrir o verdadeiro custo dos produtos resultantes dessa exploração ponderando o valor económico em conjunto com o valor científico, estético, patrimonial, cultural e recreativo, o que eventualmente levaria à descoberta de outros materiais de substituição, menos agressivos para a geologia e assim se conseguiria reduzir a pressão na sobre exploração dos recursos geológicos.” [4]

______________________________________FIM

Fontes e Bibliografia:
[1] - http://paleoviva.fc.ul.pt/almafossil/Grafitos/Grafit01.htm, consultado em 16 de Maio de 2012;
[2] - LEITE DO NASCIMENTO, M. A. L. do; RUCHKYS, U. A.; MANTESSO-NETO, V. Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo – trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 2008.
[5] - Brilha, José, 2005. Património Geológico e Geoconservação – A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Pg 40-51, Palimage. Imagem Palavra. Braga.
[6] - http://www.anoplanetaterra.org/, consultado em 19 de Maio de 2012;
[7] - http://www.terramater.pt/?pag=117, consultado em 20 de Abril de 2012

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