segunda-feira, 7 de maio de 2012

BGC - Tema 3



Geodiversidade. Conceito e valores
Geodiversidade, Geoconservação e Património Geológico

José Carlos Leite


Fará sentido, em termos de conservação,
reduzir a Natureza à sua componente viva?
Não estarão o mundo biótico e abiótico
inexoravelmente interligados?

Vivemos numa zona onde devemos ter particular atenção sobre os assuntos aqui abordados, dada a ação nefasta do homem nestes temas: o Baixo Mondego.

Temo-nos habituado a encarar o Ambiente apenas numa perspetiva dos seres vivos e a sensibilidade relativamente aos inertes é, ainda, muito residual… Mas o Planeta não é só animais e plantas, não é só vida e, mesmo para a sobrevivência destes, os inertes ocupam papel fulcral. A ação do Homem também é nefasta sobre a Terra e sobre os materiais que o constituem e temos pela frente graves problemas para resolver relacionados com o uso dos solos e dos seus constituintes e, lamentavelmente, estes não se reduzem aos efeitos sobre a diversidade biológica.
Ora é exatamente este o campo de ação da Geodiversidade, da Geoconservação e do Património Geológico, áreas a serem encaradas com cada vez maior atenção. Estes novos termos, com poucas décadas, têm vindo a surgir e a ampliar o seu significado.
É, por isso, importante que se faça aqui uma abordagem diferenciando os três termos em causa e outros associados, identificando e compreendendo o sentido evolutivo do respetivo significado. Este é o mote para a abordagem que vamos fazer a seguir:

Antecedendo os termos que vamos analisar surge a ciência Geologia, de definição:
“...do grego γη- (ge-, "a terra") e λογος (logos, "palavra", "razão"), é a ciência que estuda a Terra, sua composição, estrutura, propriedades físicas, história e os processos que lhe dão forma. É uma das ciências da Terra. A geologia foi essencial para determinar a idade da Terra, que se calculou ter cerca de 4,6 bilhões de anos e a desenvolver a teoria denominada tectônica de placas segundo a qual a litosfera terrestre, que é rígida e formada pela crosta e o manto superior dispõe-se fragmentada em várias placas tectônicas as quais se deslocam sobre a astenosfera que tem comportamento plástico.”[1]

Também não é demais, e já em tópico anterior abordamos esta questão, relembrar outros conceitos cruciais: falar do “Valor da Geodiversidade”, falar de “valor” é uma questão mais profunda do que à primeira vista parece. Relacionados com “valor” temos, segundo Vaz e Delfino, 2010, que perceber como se encadeiam os seus elementos constituintes surgindo, assim, os conceitos de “valor extrínseco” e “valor intrínseco”:
- o extrínseco é o valor derivado, por exemplo, o valor instrumental das coisas por causa da sua utilização atual ou potencial e o valor artístico que deriva da apreciação por terceiros, podendo ser instrumental, por causa da sua utilização atual ou potencial, ou inerente, como as obras de arte ou outros objetos de apreciação - caso dos objetos naturais,
- e o “valor intrínseco”, de difícil explicação, é o valor que uma determinada coisa tem devido á sua própria natureza, e as coisas são “intrinsecamente” valiosas, sem outras razões, porque meramente existem motivações para as promover, apreciar ou proteger devido à sua própria natureza.
O valor instrumental tem, assim, a ver com a nossa vontade, interesses e desejos e o intrínseco tem a ver com aquilo que a coisa representa e não pelo modo de uso.

É nessas suas vertentes que temos que enquadrar o termo “valor”, associado ao que vamos expor.

1. Geodiversidade

Não podemos considerar existir uma definição abrangente e única tal é a amplitude da sua aplicação porque, segundo Brilha, 2005:22, ela “resulta de uma multiplicidade de fatores e da relação entre eles”. Entendemos que é por essa multiplicidade que ainda não temos uma definição consensual, o que acarreta que as diversas especialidades vão adotando a definição ao seu campo de atuação com enfase para os aspetos que mais lhe dizem respeito. Para este autor os primeiros responsáveis da diversidade são os cerca de 90 elementos químicos, sendo os minerais resultado da combinação desses produtos - conhecendo-se quase 4000 (Wenk&Bulakh,2004). A associação dos minerais dá origem às rochas. Depois de formadas as rochas podem formar dobras e fraturas sobre as quais atuam os agentes atmosféricos. Depois o clima, a pressão, a presença da água dão, também, o seu contributo. A estes acrescem outros fatores.
Uma simples combinação de todas as situações descritas dará uma infinidade de resultados diferentes. E por aqui se entende como encontramos elementos tão distintos.
Por outro lado o termo começou a ser usado recentemente, na década de 1990, por geólogos e geomorfólogos preocupados em estudar a natureza na vertente geológica. Não existem referências que permitam concluir quando o termo foi utilizado a primeira vez, mas “sabe-se que os primeiros trabalhos foram realizados na Tasmânia (Austrália) e principalmente no Reino Unido, em 1993, na Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística” (BRILHA, 2005).
Assim sendo e em termos evolutivos apresentamos uma tabela resumo da cronologia:


Deixámos, então, algumas das definições que fomos encontrando nas nossas pesquisas, sendo certo que a base se prende com a variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra:
A geodiversidade (ou diversidade geológica) é a variedade (a diversidade) de elementos e de processos geológicos, sob qualquer forma, a qualquer escala e a qualquer nível de integração, existente no planeta Terra (do grego gê, Terra + latim diversitate, diversidade). O conceito de geodiversidade é um conceito integrador fundamental que engloba todos os materiais e fenómenos geológicos que dão corpo ao Planeta e o modificam (a sua estrutura e a sua superfície) e que, em conjugação com a biodiversidade, define a essência material da Terra e o modo como ela se transforma e evolui.” [3]
 “Entende-se por geodiversidade a variação natural dos aspectos geológicos (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicos (formas e evolução de relevo) e do solo. É importante ressaltar que não inclui apenas elementos abióticos da natureza, mas também os bióticos (ARAÚJO, 2005).
Azevedo (2007) define geodiversidade como variação litológica das rochas, processos geológicos, diversidade dos solos e como os afloramentos estão dispostos na superfície da Terra.
Para a Associação Européia para a Conservação do Patrimônio Geológico (PROGEO) e para a Sociedade Real da Conservação da Natureza do Reino Unido, geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos geradores de paisagem (relevo), rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais, bases de vida na Terra (AZEVEDO, 2007).
A geodiversidade é o resultado dos processos interativos entre a paisagem, a fauna, a flora e a nossa cultura. A geologia e a geomorfologia determinam a distribuição dos habitats, das espécies e dita como o homem organiza seu espaço geográfico. Porém, o interesse pela geodiversidade ainda é inferior ao interesse pela biodiversidade por parte da sociedade (ARAÚJO, 2005).” [2]

2. Património Geológico
 
“O conjunto dos aspetos e de exemplos concretos de geodiversidade, aos mais diversos níveis, que, por esta ou por aquela razão, se entendeu salvaguardar por meio de medidas especiais de proteção, tal como consignadas na legislação específica de cada país.” [3]
Para perfeito entendimento deste ponto nada como demonstrar: nesse sentido, de clarificar a importância, abordaremos em publicação a seguir, o caso do "Cabo Mondego", cuja leitura se aconselha, onde demonstraremos essa importância e provaremos o que é Património Geológico.

3. Geoconservação
 
Em primeiro lugar há que entender o porquê da necessidade da Geoconservação e a resposta está encerrada nos múltiplos valores (ver introdução sobre “valor”) que a “Diversidade geológica” tem (Brilha, 2005):
- valor intrínseco, valores culturais (espirituais, arqueológico, folclore, sentido de lugar), valores estéticos (paisagem, turismo, lazer, voluntariado) valores económicos (energia, minerais, materiais, fósseis), valores funcionais (Construção e suporte de infraestruturas, Armazenamento e reciclagem, Saúde, Incineração, Controle da poluição, Química da água, Funções do solo, Funções do geossistema, Funções do ecossistema), valor cientifico e educativo (investigação, história, monitorização, educação e formação). 
Assim, são objetivos da Geoconservação “Todas e quaisquer ações empreendidas no sentido de preservar e de defender a geodiversidade.” [3]

Entendido o que é a Geodiversidade e o que é o Património Geológico, facilmente se conclui que são, assim e agora, um valor máximo a proteger e não apenas naqueles locais e aspetos geológicos pela sua magnificência e, por isso mesmo, expressamente classificados e protegidos por lei.
Há que proteger é a geodiversidade e sítios onde estão registrados a história geológica (ex: Cabo Mondego, Figueira da Foz) do Planeta e não apenas o património geológico.
Só este respeito poderá assegurar a gestão equilibrada dos recursos geológicos (por exemplo: carvão, petróleo, areia para construção), a utilização racional dos recursos geo-hídricos (exemplo: águas subterrâneas), a proteção eficaz nos ambientes naturais para usufruto e bem-estar de todos, hoje e no futuro.

Um dos primeiros e importantes passos para a Geoconservação é o conhecimento: a inventariação geológica completa do território português foi recentemente concluída sob coordenação do Departamento de Ciências da Terra da Escola de Ciências da Universidade do Minho e é de importância científica e estratégica fundamental.
Segundo José Brilha, docente e coordenador do projeto, que envolveu mais de 70 cientistas de universidades e associações e a Fundação para a Ciência e Tecnologia, “já existia um levantamento feito ao nível da fauna e da flora, mas era fundamental classificar locais de valor abiótico [influências que os seres vivos recebem num ecossistema], com interesse científico, revelando a importância de ser gerido e preservado pelas autoridades nacionais que tratam da conservação da natureza”.
Para José Brilha há locais que não devem ser destruídos, pois são testemunhos científicos dos acontecimentos-chave que marcaram a história do planeta, nomeadamente do território português.
O projeto dá a Portugal os instrumentos necessários para implementar uma política de geoconservação, com base neste conjunto de locais que correspondem às ocorrências da geodiversidade com valor científico. Em Portugal tínhamos um ligeiro atraso neste campo, pelo que agora estamos em condições de comparar o nosso património geológico com o dos outros países. Aliás, para a sua área geográfica, Portugal é dos países europeus com maior geodiversidade.

5. Conclusão
 
Assim sendo e em conclusão, a conservação de elementos do Património Geológico constitui uma necessidade para a manutenção da qualidade de vida de todas as espécies que habitam o planeta Terra.
A vida depende da Geodiversidade e, além disto, a conservação destes elementos reveste-se de um valor científico incalculável, uma vez que eles guardam a explicação para origem e evolução deste planeta e de todas as formas de vida que nele habitam. 


                                                                          FIM
Bibliografia e Fontes:
[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Geologia, consultado em 5 de maio de 2012
[2] – http://geoconservacao.blogspot.pt/p/geodiversidade.html, consultado em 6 de maio de 2012
[3] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Geodiversidade, consultado em 5 de maio de 2012
- Brilha, J. 2005. Património Geológico e Geoconservação – A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage. Imagem Palavra. Braga.
- Brilha, J. 2012. Geodiversity, geoconservation and sustainable development. Conferência em Sinaia. Earth Sciences Department University of Minho. Braga. Portugal.
- Vaz, S. & Delfino, A. (2010). Livro de Ética e Cidadania Ambiental. UAb.

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